EUROMONITOR: TENDÊNCIAS DIGITAIS EM MERCADOS EMERGENTES.

EUROMONITOR: TENDÊNCIAS DIGITAIS EM MERCADOS EMERGENTES.

Tradicionalmente, os mercados emergentes tendem a ficar para trás na adoção de produtos e serviços digitais, assim como no acesso à internet. Entretanto, a pandemia da Covid-19 tornou tecnologias, como serviços digitais, sistemas financeiros digitais e e-commerce, essenciais para a vida diária, forçando as pessoas a mudarem seus hábitos. Essa mudança de comportamentos acelerou a adoção desses serviços no mundo todo. Com isso, a indústria digital tornou-se atraente para investidores e concorrentes que buscam atender as novas necessidades dos clientes, segundo estudo de tendências da Euromonitor International.

Diferentemente de mercados desenvolvidos, como Canadá e Alemanha, nos quais mais de 90% da população têm acesso à internet, em países como Índia e Indonésia menos de 50% da população têm esse acesso, e no Brasil o número é de 64,9%. Além de acesso limitado à internet, os consumidores de mercados emergentes ficam para trás na adoção de serviços tecnológicos por falta de familiaridade e confiança, e por não terem certeza de como suas informações pessoais serão utilizadas ou armazenadas pelas plataformas digitais.

Conforme as economias emergentes vão se desenvolvendo, essa realidade vai mudando. Segundo dados da Euromonitor, países como Vietnã e Indonésia apresentaram um aumento de 49 e 32%, respectivamente, em casas com acesso à internet de 2014 a 2019. Além disso, a aquisição de smartphones e a mudança de gerações para millennials e gerações mais jovens, que lidam com a tecnologia desde muito cedo, também aumentaram o acesso das pessoas à internet. De acordo com o relatório, o crescente poder de compra e a influência na tomada de decisão dos millennials continuarão a ser um importante catalizador para a transformação digital no mundo.


Serviços digitais

Uma das tendências que a Euromonitor identificou em mercados emergentes foi a adoção de serviços digitais como streamings, aulas online, plataformas de comunicação e videogames, impulsionados pelas plataformas digitais. Segundo o estudo, em países como Brasil, Colômbia e Índia, os gastos dos consumidores em serviços de streaming digital cresceram mais de 18% a cada ano de 2016 a 2019.

Plataformas como Netflix e Spotify familiarizaram os consumidores com o modelo de assinaturas, criando oportunidades para negócios locais em mercados emergentes, como é o caso da Looke, plataforma brasileira de distribuição digital de vídeos via streaming lançada em abril de 2015. Durante o primeiro semestre de 2020, a Netflix ganhou quase 16 milhões de novos assinantes, alcançando mais do que o dobro da receita de 2019. Além disso, a plataforma teve a maior alta em mercados emergentes, como Ásia-Pacífico e América Latina, com 63% e 25% a mais de novos assinantes do que em 2019, respectivamente.

Além do lazer, outros serviços digitais que apresentaram um crescimento durante este ano foram as plataformas de videoconferências. O Zoom foi o aplicativo não relacionado a jogo mais baixado do mundo em abril de 2020, com cerca de 131 milhões de instalações, com a Índia sendo responsável por 18% delas.

De acordo com a Pesquisa Voice of the Industry da Euromonitor, 44% dos entrevistados de mercados emergentes afirmaram que os consumidores passaram mais tempo em casa permanentemente. Dessa forma, o estudo avalia que comportamentos impulsionados pela pandemia continuarão prevalecendo mesmo após seu fim.

De olho nesses novos comportamentos, empresas tanto em mercados emergentes quanto desenvolvidos utilizam estratégias semelhantes com serviços digitais para melhorar a experiência do usuário, que agora está buscando novas formas de se divertir, trabalhar e estudar. Um exemplo disso, é o Messenger Rooms, serviço lançado pelo Facebook, que permite aos usuários criar salas virtuais para conversar, jogar, assistir a serviços de streaming e usar filtros. Outros exemplos são a plataforma de vídeo chamada HouseParty, da Epic Games, que entrou no mercado latino-americano em maio de 2020, e o Google Classroom, que oferece recursos exclusivos para os professores se conectarem com seus alunos criando aulas, distribuindo tarefas, avaliando trabalhos e enviando feedbacks.

Além de efetivamente novas plataformas digitais, novos recursos também estão sendo adicionados a essas plataformas com o objetivo de melhorar essa experiência dos usuários. Como o Netflix Party, extensão do Google Chrome, que permite que amigos se reúnam virtual e simultaneamente para assistir a conteúdos da plataforma de streaming.


Sistemas financeiros digitais

Outra tendência identificada pela Euromonitor, foi que nos últimos cinco anos, as tecnologias de pagamento cresceram nos mercados emergentes. Porém, ainda existem barreiras culturais que esses provedores de serviços financeiros precisam considerar ao desenvolver serviços para tais mercados. Uma dessas características é que a porcentagem de pessoas com acesso a uma conta bancária nesses países é menor do que nos desenvolvidos. Outra característica é que em muitos lugares do mundo, o dinheiro ainda é o método de pagamento mais utilizado, devido às altas taxas de uso de pagamentos digitais ou à falta de familiaridade e confiança nesses serviços.

Para superar essas barreiras, os agentes financeiros devem implementar serviços que não requeiram acesso a uma conta bancária. Por exemplo, o M-PESA do Quênia permite transações ponto a ponto e pagamentos a terceiros por meio de um sistema semelhante ao de mensagens de texto.

Entretanto, não é somente aos desbancarizados que esses serviços acabam se tornando atrativos. Muitos consumidores com conta bancária estão abertos a novos serviços financeiros online. Com isso, as ofertas crescentes de produtos por concorrentes globais, como Apple Pay e Samsung, e aplicativos bancários locais, que gastam uma quantidade significativa de recursos no treinamento de consumidores e estabelecimentos sobre o uso, serão beneficiados em longo prazo.

Os serviços financeiros online também foram beneficiados pela pandemia da Covid-19 de maneira direta, pois a Organização Mundial da Saúde recomendou que as pessoas evitassem utilizar dinheiro, substituindo-o por aplicativos e cartões. Para corresponder às atitudes do consumidor, empresas como o Paypal incorporaram serviços financeiros digitais como códigos QR para realizarem pagamentos digitais. Além disso, vários varejistas permitiram que os consumidores comprassem online e retirassem na loja para evitar contato e a disseminação do vírus.

De acordo com o relatório da Euromonitor, os consumidores continuarão a buscar serviços financeiros online que ofereçam segurança e alívio econômico em um futuro próximo. A prevalência e o crescimento desses produtos dependerão da capacidade desses serviços de oferecer benefícios tangíveis e duradouros para empresas e consumidores.


E-commerce

Além de serviços digitais e sistemas financeiros digitais, outra tendência identificada pela Euromonitor nos mercados emergentes é o e-commerce. Segundo o estudo, nos últimos cinco anos, o canal de vendas de e-commerce nesses mercados cresceu 30%. Esse crescimento representa um aumento de valor de US$ 242 bilhões, atingindo um total de US$ 834 bilhões ao final de 2019. O primeiro semestre de 2020 teve um aumento global nas vendas online, continuando essa escalada.

De acordo com o relatório, o crescimento do comércio eletrônico nos mercados emergentes pode ser atribuído à alta na velocidade de penetração da internet e ao comportamento dos consumidores, que passam a querer realizar comparações facilmente nos preços e qualidade dos produtos antes de comprar.

Dessa forma, as empresas bem-sucedidas são aquelas que utilizarão esforços omnichannel para melhorar a experiência dos consumidores, como serviços de clique e retire e delivery. Segundo a última pesquisa de percepção do consumidor da Euromonitor, mais de 60% dos entrevistados afirmaram que provavelmente aumentarão as compras online e reduzirão as compras na loja em médio e longo prazo.

À medida que os consumidores passam mais tempo em casa, aplicativos de entrega, como Rappi e Uber Eats, estão competindo para atender à demanda por entrega em domicílio. Outro exemplo, é a Flipkart, que fechou uma parceria com o Vishal Mega Mart para entregar produtos essenciais encomendados online em 26 cidades da Índia.

De acordo com o relatório da Euromonitor, até 2030, 60% da população mundial será urbana. Com isso e com o aumento da compra online, os mercados emergentes precisarão garantir vias e transportes eficientes para que companhias de e-commerce tenham sucesso e os produtos cheguem às casas dos consumidores.

Para ajudar nesse processo de entrega, diversas empresas estão tornando suas redes de distribuição mais centralizadas, com cadeias de suprimentos para se concentrar em estratégias de preenchimento urbano. Além disso, alguns varejistas optaram por usar “lojas escuras” como locais de atendimento localizados e transformaram lojas em centros de distribuição locais.

Ao passo que pedidos de delivery estão cada vez crescendo mais, os consumidores esperam melhorias em sua experiência de compra online. Uma experiência omnichannel perfeita é fundamental para o crescimento do varejo. Os consumidores tendem a preferir empresas que lhes proporcionem uma experiência amigável no aplicativo, bem como várias opções para receber produtos comprados, de acordo com a Euromonitor.

Apesar disso, com a demanda aumentando a cada dia, as varejistas antigas podem não ter a capacidade ou rede para entregar pacotes na mesma velocidade, o que representa uma oportunidade para as startups conquistarem o mercado de delivery. Segundo a Euromonitor, varejistas, pequenas lojas, restaurantes e outras empresas podem se conectar usando o modelo de tecnologia crowdsource, ou seja, terceirizando tarefas, ideias e soluções para melhorar a experiência do cliente.

Fonte: Meio e Mensagem

**Crédito da imagem no topo: Golubovy/istock



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