CARREIRAS MOLDAM VIDAS OU VIDAS MOLDAM CARREIRAS?

A busca pela realização é uma constante do ser humano. Todos nós queremos ser bem-sucedidos, felizes e relevantes. A competição é cada vez mais forte e para se destacar, é preciso atualização permanente e se esforçar para ser sua melhor versão. Mas também é notório que os caminhos para “chegar lá” estão muito mais facilitados, afinal, nunca se teve tanto acesso a referências e informações.

O que é maravilhoso nisso é que o avanço da tecnologia, além de viabilizar esse acesso, tem contribuído para solidificar uma cultura de aprendizado contínuo. Ou seja, mudar de carreira ao longo do tempo ou exercer múltiplas funções tem se revelado não só um caminho desejável como muito mais realizável.

E, na minha visão, há um componente fundamental para o sucesso: ter paixão pelo que se faz. E para se apaixonar é preciso olhar com interesse genuíno e abertura para aprender todos os dias.

Eu vejo que a jornada da carreira pode trazer muito dessa energia se ela estiver conectada a um projeto de vida e sustentada pela sua paixão. Um trabalho feito por salário, cargo ou qualquer outro tipo de status nunca será capaz de alimentar esse sentimento empolgante e resiliente na mesma medida.

No meu caso, te conto que estou há mais de 20 anos na mesma empresa e já fiz tanta coisa que parece que mudei de emprego mil vezes. Mas sempre esteve presente algo maior que me manteve conectado e motivado para a próxima fase, para o próximo desafio: o fato de que o meu trabalho fez e faz parte do meu projeto de vida. Por isso, quando falo sobre carreira e futuro, mesmo com toda tecnologia disponível, eu dou uns passos para trás e te convido a fazer alguns questionamentos.

Projeto de vida: a razão de tudo

Digo isso, não só pela minha experiência, mas por identificar que as pessoas mais brilhantes e felizes que eu conheço fizeram de suas carreiras uma plataforma para materializar os seus projetos de vida. Então, se eu puder dar um conselho para qualquer profissional de hoje ou do futuro, seria esse: estabeleça esse projeto antes de qualquer outro, porque ele vai te ajudar a tomar as decisões necessárias e te levar adiante frente às adversidades que vão acontecer.

Aquela pessoa que diz “não vejo a hora de me aposentar para poder pescar” é alguém que deveria rever a sua carreira. Se a pesca é algo que você gosta tanto assim, por que não trabalhar com isso desde já? Imagina só viver sua paixão todos os dias e não somente depois de muitos anos de um trabalho vazio? Certamente essa pessoa teria muito mais sucesso, ficaria menos cansada e teria a experiência de uma vida plena de significado.

Mas e se o seu projeto mudar? Olha, há grandes chances de isso acontecer! Em especial se ele foi idealizado em uma fase da vida e agora você está em outra. Daí surgem muitos questionamentos, dentre eles, se o seu emprego atual pode, ou não, se manter relevante dentro dele. É como eu falei: até para decidir se vai ou se fica, o projeto de vida é fundamental.

Certa vez, comentei que muitas pessoas deixam seus empregos por problemas de contexto e não de conteúdo. Explico aqui: o contexto é a situação momentânea de um chefe difícil, por exemplo. Já o conteúdo é a ética, a cultura da empresa. Se você acredita nos valores da empresa em que está e eles se conectam ao seu projeto de vida, os desafios de contexto vão passar e, lá na frente, você vai ficar feliz por não ter desistido.

Por outro lado, se permanecer onde está realmente não for mais uma opção, há vários caminhos para seguir! O futuro do trabalho é cada vez mais colaborativo e o ecossistema que está se criando em torno das empresas é muito vibrante! A MIT Sloan Management Review, divulgou um artigo dizendo que hoje, cerca de 25% de todo o trabalho de uma companhia é realizado por “não funcionários”, ou seja: pelos terceirizados, freelancers, colaboradores de crowdsourcing, etc. Tudo viabilizado pelo acesso que a tecnologia é capaz de promover. Esse pode ser um caminho para quem está questionando o contexto atual, mas ainda ama o conteúdo.

A tecnologia aplicada

O avanço e a utilização da tecnologia no dia a dia vão nos acompanhar por toda essa jornada de transformação e novas possibilidades, sem dúvida alguma. E isso é bom! Eu acho que as pessoas devem fazer trabalhos que estimulem e que provoquem reflexões. Atividades repetitivas e automáticas, que não despertam emoção alguma e não requerem pensamento crítico, não devem ser feitas por nós. A gente é muito mais que isso.

As novas possibilidades de trabalho serão criadas por meio da tecnologia e vão causar desconforto até que se estabeleçam novas práticas, como acontece em toda revolução, e não será a primeira vez, nem a última, que a humanidade passará por isso. Desde a revolução agrícola isso acontece repetidamente e assim damos um salto em qualidade de vida, saúde, entre outros benefícios que a história já mostrou.

O trabalho remoto, por exemplo, veio para ficar, assim como outras tendências que permitem a liberdade de localização pela simplificação da troca de informações. A prova de que o processo está a todo vapor é que os investimentos em cloud computing (a nuvem que permite o armazenamento e troca de dados) devem bater os 300 bilhões de dólares em 2021, de acordo com o Gartner.

Olhando para esse número dá para perceber que a tecnologia vai fazer parte de todo plano de carreira e usar isso a seu favor é bastante inteligente! Só não deixe de aplicar o máximo da sua humanidade também, porque isso não muda.

É a sua autenticidade, sua paixão e sua consistência que fazem as coisas acontecerem na vida particular e na sociedade. É gerar primeiro no seu coração, se dedicar ao seu projeto de vida e entender o motivo de estar ali, vivenciando cada desafio.

E antes que seja tarde, vale lembrar que o “chegar lá” é diferente para cada um e muda dentro de nós ao longo do tempo. O ano de 2020 fez muita gente refletir sobre suas prioridades e tomar novas decisões, especialmente sobre carreira e a forma como lidar com ela, olhando para a jornada pessoal com mais atenção e carinho.

Fica o meu convite para que você pense em seu projeto de vida com calma e cuidado, e só depois disso direcione a sua busca para ser feliz e relevante naquilo que faz!

Ilustração da capa: Muhammed Sajid

Fonte: Artigo de Luiz Meisler, ex-presidente da Oracle Brasil, publicado em O Futuro das Coisas

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