O NOVO NORMAL E O NOVO VOCÊ

O NOVO NORMAL E O NOVO VOCÊ

Se fossemos velejadores, eu diria que estamos no meio de uma tempestade e não temos ideia quando o mar irá se acalmar. Na verdade, não temos ideia de nada. A resposta mais comum para nossas questões é “eu não sei”. E o não saber gera medo, muito medo e ansiedade. Mas, talvez, seja a hora de deixar essas associações no passado e aceitar o que já sabíamos, mas agora é tão evidente: não temos controle sobre nada.

Hoje eu escrevo para falar sobre emoções. Escrevo das minhas para acessar também as suas, provavelmente parecidas. O barco pode ser diferente, mas a tempestade é a mesma. Nos últimos tempos tenho vivido mais ou menos assim: começo o dia meditando, alcanço positividade e confiança para criar e compartilhar, na hora do almoço posso chorar de tristeza, no meio da tarde posso desejar ouvir uma música alto astral, no fim do dia sinto medo e inseguranças, antes de dormir agradeço e tento celebrar alguma conquista particular ou da ciência. A ordem não é constante. Os up’s and downs são. Tudo muda rapidamente, dentro e fora de mim. Tem sido assim para mim. Como é com você?

Quando olho para dentro, para fora, quando ouço amigos e coachs, fica claro que a incerteza e o desconhecido prevalecem nesse tsunami atual, e que o medo vem como consequência, assim como o estado de alerta constante. Regular as emoções, encontrar algum equilíbrio emocional é dificílimo. Estamos vivendo e perdendo. Alguns perdem trabalhos, outros rotinas, modo de viver e muitos perdem vidas, amigos, parentes. É um dos momentos mais difíceis que nossa era já experimentou.



O nosso mundo interno

O estresse é contínuo, o “modo sobrevivência” já não é mais uma expressão para definir o estado de quem desvia dos problemas e segue vivendo a vida sem o menor sentir ou sentido. Vivemos uma pandemia, nossos planos foram por água abaixo, trocamos a nossa liberdade pela nossa vida, pela vida do outro, para preservar o sistema de saúde superlotado. Nós nos isolamos fisicamente para salvar vidas, e no meio disso tudo, a desigualdade social se mostra ainda mais cruel e intolerável.

Não está tudo bem. O equilíbrio e a sanidade parecem utópicos para quem sente e não foge da realidade. Não sei se você sabe, mas eu e meus filhos tivemos testes positivos para o coronavírus. Ainda existiam testes quando tive os sintomas há 20 dias. Foi difícil. Eu estava sozinha, doente, com uma doença que mata, com meus dois filhos na mesma condição, nós três em casa, eu com medo deles piorarem e terem sintomas graves. Por uma força maior ou algo grandioso que nos foge a compreensão clara, os sintomas físicos foram leves, mas os sintomas emocionais foram imensos, ao menos para mim.

Tive muitas oscilações. Transitava do medo para a confiança em um segundo. Por isso, no inicio deste texto, descrevi os meus momentos e pergunto como você está vivendo o seu dia a dia. Mesmo sem ter o vírus, imagino que esteja experimentando crises diárias. Quem não está doente quando muitos estão? Conciliar o mundo interno, o da casa, e o mundo externo não é tarefa fácil para ninguém, principalmente no agora.


As autocobranças

Durante o meu processo de cura muitos me perguntavam que livro eu estava lendo ou que curso eu estava criando. Aí eu ficava mais ansiosa do que já estava. Essas perguntas me pesavam, apontavam o que eu não conseguia fazer e internamente berravam para mim que eu estava fazendo algo errado. Eu me perguntava “como assim não estou lendo, produzindo, criando?”. Obviamente só eu sentia as perguntas assim, quem as fazia tinha a intenção de se interessar por mim. E o interesse é um ato de amor. Contudo, eu as recebia como uma cobrança.

A verdade é que eu quase não sai da cozinha nesses 20 dias, não sei cozinhar, portanto não era um lugar que me deixava feliz. Contudo era a escolha certa: cuidar de mim e dos meus filhos. Quando me sobrava tempo (que parecia em excesso para todo o resto do mundo em quarentena) eu escolhia tentar promover um ambiente seguro para que as crianças pudessem se sentir protegidas e amadas, com mais um tempo extra, cuidava mais de mim, física, emocionalmente e espiritualmente. Muitas vezes tive vergonha. Vergonha de não estar produzindo, de não estar ajudando as pessoas como eu gostaria, de não estar criando e compartilhando como eu achava que deveria. Criei expectativas altíssimas. O crítico interno cobrava. Sim, caí nessa.


As conexões que importam

Durante os primeiros dias exigi demais de mim. Só no quinto ou sexto dia comecei a entender o novo normal. O processo foi assim: primeiro aceitei a nova situação, depois aceitei minhas emoções, meu sofrimento e aí comecei a ser gentil também comigo. Eu me dei uma dose de autocompaixão e me coloquei vulnerável. E essa vulnerabilidade que dá tanto medo, me aproximou ainda mais das pessoas porque fez eu me abrir para receber. Baixei a guarda da mulher maravilha e me conectei comigo, com meus filhos, com meus familiares, com meu namorado e amigos. Eu me conectei de forma crua e pura. Sou muito grata a eles, pois nessa hora o apoio e o amor recebido é o essencial. Veja: o distanciamento é físico e não social. É físico não é afetivo.


Arrisque imperativos

Foi aí que eu entendi que eu estava fazendo o meu melhor com os recursos que tinha. Reduzi as expectativas para a altura da realidade. Percebi o perigo de estar transferindo o meu vício antigo, a super produção, para o novo momento, tão diferente. Ri com empatia quando li um post do @alphamaes, que dizia “estamos em uma pandemia e não em um concurso de produtividade”. Cai na real e parei. Fui para dentro, me recolhi para me redescobrir em um momento tão peculiar quanto intenso. Funcionou muito para mim. Por isso, sugiro: experimente!

Observe os estímulos internos e monitore os estímulos que vêm de fora. Será mesmo que você precisa estar online, em mil lives, em todas as chamadas de vídeo? Será que o novo normal é sobre estar ocupada integralmente de novo? Você está dando espaço para algo novo surgir? Como você tem aproveitado sua própria companhia? Vive preocupada? A mudança de fora exige a mudança de dentro e a abertura para o novo. Você sabe: eu sempre evito os imperativos (faça assim, faça assado), não acredito na receita pronta para nada. Mas pelo que tenho visto, ouvido e sentido, estamos muitos vivendo e nos emocionando da mesma forma. Portanto, arrisco os imperativos dessa vez, e sugiro que você sinta cada um deles. Se fizer sentido aí dentro, tente segui-los. Mais uma vez: fez muito bem para mim. Vamos lá?


Emoções e sentimentos

Explore suas emoções, incluindo o medo e a ansiedade. Lembre-se: as experiências que mais nos transformam são  aquelas das quais desejamos fugir. Assim não fuja de você. Não fuja de uma experiência que pode transformar a sua vida. Sustente suas emoções e desconfortos internos, mas tente não se identificar com eles. Você está sentindo preocupação e medo. São sentimentos temporários e que não definem você, só estão passando por você. Pense nisso. Coloque em prática. Você não é a sua emoção. Você não deve negar o que sente, pelo contrário, abrace, entenda, não se apegue e toque o barco pois ela passa.

Caso lhe soe coerente, faça no seu modo e no seu tempo. Respeite-se. Não exija velocidade em um tempo de pausa. Não se acomode na vitimização, faça um esforço e se reinvente. O velho ficou no velho mundo, junto com aquela exigência crítica megalomaníaca dos outros tempos. Mais essência, menos excesso. Quantas vezes falamos disso, não é? O momento convida a exploração de novos cenários e de novas formas de pensar e de ser.

Quando me perguntam sobre o pós-coronavírus, primeiro penso na pressa e na mania de viver no futuro, comportamentos incoerentes com o novo normal. Depois divido a ideia, o desejo de um mundo com pessoas transformadas, curadas, com a consciência expandida. Pessoas que sobreviveram e mudaram seus hábitos, fizeram novas escolhas, se tornaram mais humanas durante a presente pandemia. Pessoas que se cuidaram, cuidaram do todo, tiveram fé e confiança na ciência. Eu projeto, imagino, idealizo pessoas curadas e curando o planeta.


Viva o presente

Romântica? Bem, escolho olhar pelo lado de quem quer acreditar no melhor, sem tirar o olho da realidade, da desigualdade,do luto e da luta. Nesse caminho tento ser mais generosa com os outros mas também comigo. E, dentro disso, tento transformar tudo aquilo que não conseguia na época em que eu acreditava que era preciso correr muito para dar conta de tudo e…que me faltava tempo.

Eu escolho viver o presente. Aceitar a nova realidade e fazer parte do que acredito que pode ser a solução. E você? Use os comentários para se expressar. Quero ler e ouvir você. Essa coluna é sobre abertura e troca. Fica o convite e muito carinho.

Fonte: artigo da especialista em desenvolvimento humano Ana Raia publicado em vidasimples.co



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