DOIS CENÁRIOS FUTUROS E CINCO SUPER CAPACIDADES

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Crédito da imagem da capa: Lee Kyutae, aka Kokooma.

Vamos imaginar dois possíveis cenários. O primeiro é mais otimista, e apresenta um novo olhar sobre a relação humano-tecnologia, criando uma nova realidade de trocas. O segundo é pessimista. Nele, os sistemas educacionais não conseguiram acompanhar as mudanças tecnológicas e culturais, e falharam em desenvolver capacidades e talentos, deixando muitas pessoas sem condições de conseguir um emprego ou criar um trabalho autônomo significativo.

Há diversos outros cenários, mas vamos considerar para este momento, apenas estes dois. Aliás, cenários não precisam ser excludentes; diferentes cenários podem ocorrer simultaneamente em diferentes países e regiões, indústrias, grupos etários ou grupos socioeconômicos. Cenários também não pretendem ser utópicos nem distópicos, mas estabelecer uma visão objetiva de possíveis versões do futuro, mostrando forças ou tendências que poderiam influenciar esses futuros. Por isso, cenários devem ser razoavelmente críveis, para que incentivem alguma ação.

Vale ainda dizer que, na construção de cenários levamos em conta variáveis ​​impactantes que são aquelas que poderiam ter maior influência sobre o futuro, e variáveis ​​incertas que são aquelas em que é mais difícil termos certeza sobre seus impactos, desdobramentos e resultados. Embora possamos tratar essas variáveis ​​como independentes, elas têm algumas interações causais. Por exemplo, em cenários que consideram um rápido avanço tecnológico, pode haver uma pressão mais forte por novas habilidades e maior incentivo para o aprendizado. Ou, o avanço tecnológico pode afetar padrões de mobilidade de profissionais, incentivando por exemplo, o trabalho remoto e, ao mesmo tempo, atraindo trabalhadores de diversas regiões geográficas.

Vamos focar em dois cenários agora e depois extrapolar para possíveis habilidades e capacidades para lidar com eles.


Cenário 1: Parceria Humano-Máquina

O primeiro cenário considera uma crescente colaboração entre humanos e tecnologias ao se pensar essa dicotomia não mais em competição, mas humanos e máquinas dançando um “pas de deux” combinando inteligência e habilidades com capacidades das novas tecnologias, criando assim uma nova perspectiva de parceria.

Neste cenário, empresas adotam a automação, a robótica e a inteligência artificial para substituir tarefas repetitivas, braçais e não cognitivas, reduzindo drasticamente o custo delas; buscam três objetivos primordiais: melhorar (em vez de substituir), condições e oportunidades de trabalho; melhorar a produtividade e a competitividade; e criar valor para os clientes.

Nesta visão, a força de trabalho integra-se à tecnologia sem ser substituída. As empresas envolvem seus colaboradores nas novas tecnologias, em vez de aliená-los, expandindo a visão limitada de apenas identificar tarefas que possam ser automatizadas, para evoluir para a reengenharia de processos, para a releitura do trabalho em torno da resolução de problemas, ao mesmo tempo desenvolvendo habilidades de seus colaboradores.

Se tivéssemos que escolher uma única habilidade para lidar com esse cenário, qual seria ela?

Algumas pessoas dirão que a habilidade-chave seria letramento digital e tecnológico; outras irão apontar a aprendizagem autodirigida e lifelong learning (aprendizado contínuo), ou pensamento computacional e programação, ou até mesmo pensamento inovativo.

Mas, será que o foco excessivo em habilidades tecnológicas poderia levar a um mundo menos humanizado, focado apenas em produtividade e desempenho? Ou daria mais tempo e espaço para as pessoas desenvolverem habilidades inerentemente humanas?

Sim, nesse cenário, empresas & pessoas podem se concentrar muito mais em explorar oportunidades de criar trabalhos que aproveitem as capacidades distintamente humanas.


Cenário 2: Mundo Robotizado

Esse seria um pior cenário no futuro, em que grande parte da força de trabalho poderia enfrentar o desemprego tecnológico. Nesse cenário, escolas e universidades não conseguiram acompanhar as mudanças tecnológicas e culturais, deixando muitos sem capacidade de conseguir um emprego ou criar um trabalho autônomo.

Assim como no cenário 1, aqui também há demanda por profissionais para que trabalhem em cooperação com as máquinas, ao mesmo tempo que se especializem em novas funções. Mas, para a maior parte da força de trabalho, o ritmo de aprendizado evoluiu muito pouco – o que significa que muitos não conseguirão trabalhar em parceria com as novas tecnologias e nem acompanhar as mudanças.

Esses trabalhadores, com suas habilidades consideradas obsoletas, poderiam enfrentar escassez de oportunidades. A falta de talento para novas funções levaria à crescente pressão para automatizar ainda mais. A robótica, os algoritmos e o aprendizado de máquina, gerenciados por poucas pessoas, passariam a fazer a maior parte da produção e distribuição mundial.

Esse “esvaziamento” do mercado de trabalho levaria a profundas e crescentes desigualdades, valores polarizados com pontos de vistas divergentes na sociedade sobre o avanço tecnológico. Para controlar a conturbação social, poderia haver esforços para manter os empregos “localmente”. A baixa mobilidade diminuiria o intercâmbio de novas ideias e a expansão dos mercados. Trabalhadores menos qualificados ficariam restritos a atividades de subsistência ou iriam depender do Estado para sua sobrevivência.

Diante desse cenário pessimista, qual seria a habilidade chave para as pessoas que não conseguiram acompanhar os avanços tecnológicos?

Será que habilidades inerentemente humanas dariam alguma vantagem sobre as máquinas e seu domínio no mercado de trabalho?


Cinco superpotências

Os cenários acima levam em conta três grandes tendências: a taxa de adoção tecnológica e seu impacto nos modelos de negócios; a evolução da aprendizagem entre a força de trabalho atual e futura; e a magnitude da mobilidade – remota ou presencial – de talentos entre países e cidades.

Seja qual for o cenário, cinco capacidades inerentemente humanas, já estão sendo consideradas “superpotências” para ajudar a navegar em tempos incertos, ambíguos e complexos. Em um longo artigo publicado recentemente na Deloitte, John Hagel, John Seely Brown e Maggie Wooll explicam porque acreditam que qualquer pessoa tem potencial para fortalecer a curiosidade, a imaginação, a criatividade, a empatia e coragem e porque acreditam que serão fundamentais para os profissionais e para o ambiente de negócios do futuro.

Segundo os autores, esse conjunto de capacidades facilita a identificação de oportunidades ainda não claras e a lidar com problemas inesperados ou fora do padrão, e ainda, amplificam outras habilidades como pensamento crítico, pensamento analítico, sensemaking, inteligência emocional e inteligência social. Também oferecem novos caminhos para que as pessoas se requalifiquem e se reinventem; quando incentivadas a encontrar novas soluções ou abordagens ou a enxergar contextos de maneiras diferentes, o trabalho se torna mais desafiador, envolvente e repleto de oportunidades de aprendizado.

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Capacidades humanas inatas ampliam horizontes. (Fonte: Deloitte | Tradução livre: O Futuro das Coisas)

Hoje, não temos mais a garantia de que as habilidades com as quais ingressamos na vida profissional continuarão sendo relevantes nos próximos anos, e muito menos ao longo da carreira. Em um mundo que precisa cada vez mais de novas habilidades, os autores defendem que precisamos ter essa flexibilidade de aprender e reaprender; aquelas empresas que cultivam o desenvolvimento dessas cinco capacidades irão contar com pessoas motivadas, que diante de desafios irão procurar entender e aprender como se resolve:

A curiosidade é a percepção de que existem informações e perspectivas além daquilo que é percebido ou visível. Uma pessoa curiosa faz perguntas para trazer à tona problemas mal compreendidos e oportunidades escondidas; fazer perguntas amplia horizontes e revela “pontos cegos” dos quais podem surgir oportunidades (ou disrupções).

A imaginação transcende o que é “conhecido” para expandir novas perspectivas. É vislumbrar o que ainda não existe. É possivelmente a capacidade mais primordial para sobreviver em um ambiente em que inovações e disrupções podem vir de qualquer lugar, a qualquer momento. Com o exercício da imaginação é possível trazer à tona oportunidades que não foram percebidas e identificar novas formas de gerar valor ou impacto.

A criatividade visa uma solução, buscando encontrar novas combinações seja de ideias, ferramentas ou recursos para lidar com uma questão, um problema ou uma oportunidade. No previsível mundo dos mercados de massa e na eficiência de escala do século XX, muitos acreditavam que mexer no status quo era um risco desnecessário, e muitas empresas ainda carregam essa aversão. A velocidade das mudanças e a demanda dos clientes por soluções mais personalizadas, vem mudando essa visão, levando empresas a desenvolver novas maneiras de abordar necessidades e problemas.

Empatia é o reconhecimento inerente de que outras pessoas – colegas de trabalho, chefes, clientes – têm necessidades, aspirações e preferências distintas, de acordo com contextos individuais, os quais evoluem ao longo do tempo com base em experiências e personalidades. Pessoas empáticas buscam entender necessidades e sentimentos de outras, inclusive de clientes; antecipar necessidades e sentimentos pode revelar oportunidades para algo mais significativo que sequer alguém tinha imaginado.

 A coragem é orientada para a ação e para levar a equipe a melhores resultados, mesmo que isso incorra em risco pessoal. Quando a coragem é direcionada para alcançar algo, e não apenas para superar o medo, ela se fortalece. Em um mundo cheio de incertezas, as pessoas podem sentir medo real sobre o seu trabalho, seu desempenho, seu próprio potencial, e se irão manter-se relevantes. Coragem para agir é reconhecer o que você não sabe, pedir ajuda e agir a despeito dos riscos.

Cultivar essas cinco capacidades pode ser muito mais do que uma resposta à crise que estamos vivendo. À medida que o mundo continua a se tornar mais complexo, elas serão críticas. No entanto, poucas empresas investem recursos e tempo nisso – algumas tendem a focar em apenas uma única capacidade. Normalmente, se concentram em habilidades mais mensuráveis, justamente porque capacidades humanas (e os benefícios delas) não parecem tangíveis, parecem meio abstratas.

Quando pensamos em um ambiente de trabalho criativo ou imaginativo, costuma vir à nossa mente espaços descolados e divertidos. Segundo Hagel, Brown e Wooll, o que realmente importa é se existe integração e fluidez entre as pessoas, entre o físico e o virtual. O acesso a outras pessoas alimenta a criatividade e a empatia. O acesso à informação alimenta a curiosidade. O acesso a ferramentas alimenta o desejo de experimentar e a imaginação. Silos atrapalham; estruturas físicas, virtuais e sistêmicas também podem atrapalhar. É preciso apoiar a exploração e a experimentação no trabalho diário, como também estimular conversas, conexões e a formação de equipes para resolver problemas complexos. “Se o acesso a um recurso ou o contato com outros exigirem aprovações, as pessoas continuarão com o que têm e o que sabem”, alertam os autores.


Pensando como futurista

Em qualquer profissão ou área de atuação é importante considerar caminhos que o mercado de trabalho global poderá tomar, e considerar mais atentamente as dinâmicas complexas que afetam a força de trabalho. Em tempos de incerteza, temos que avaliar riscos e oportunidades em relação à diferentes e possíveis cenários, buscando visões positivas do amanhã.

Pensar como um futurista ajuda a antecipar situações que podem afetar diretamente a sua vida profissional e o seu negócio, levando a tomada de decisões mais acertadas, e criando ativamente futuros desejados.

Crédito da imagem da capa: Lee Kyutae, aka Kokooma.

Fonte: O Futuro das Coisas



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