HUMANOS E PETS: O QUE EXPLICA A CONEXÃO QUE ATRAI.

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Em 2015, Fernanda Rabaglio enfrentava uma crise de depressão. O tratamento com medicação e terapias mais tradicionais, até então prescritos pelos médicos, não estavam surtindo efeito. Foi então que a designer gráfica decidiu recorrer à Terapia Assistida por Animais (TAA), recomendado por um especialista. “Encontrei uma ninhada de chow-chow para doação pela internet e foi então que Prince e Maya entraram na minha vida com cerca de três meses”, conta.

A TAA é uma prática onde o animal é a parte principal do tratamento para ajudar na melhora social, emocional e física dos pacientes. A terapia, de acordo com estudos, parte do princípio de que o amor e a amizade que podem surgir nessa relação geram inúmeros benefícios a quem sofre de depressão, por exemplo.

“Maya sempre foi mais atenta, sensível as minhas reações e expressões, e muito companheira, se tornando instintivamente meu cão de apoio emocional. Enquanto Prince é mais medroso e infantil, embora muito carinho e companheiro também”, diz Fernanda, de 34 anos.


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Fernanda Rabaglio entre Prince e Maya: pets da raça chow-chow ajudaram-na no tratamento da depressão (Arquivo pessoal)

Tanto Prince quanto Maya, conta, passaram por adestramento com exercícios de socialização com pessoas e animais, além de terem aprendido comandos de obediência e segurança. “Após um ano da entrada deles na minha vida eu já não utilizava mais medicação. Eles me trouxeram ânimo para viver, uma rotina mais saudável, alívio do estresse e momentos felizes que fazem toda a diferença na qualidade de vida”, garante Fernanda.

Diretora do grupo de canais e engajamento da BETC Havas, Verônica Bricoli também é ‘mãe de pet’. No caso, do Kiwi, um dachshund de quatro anos que está sempre na cola da publicitária. “Eu diria que 90% do tempo ele está no meu ângulo de visão, uns 30% do tempo ele está encostado em mim e uns 10% ele está exigindo atenção”, brinca Verônica.

Restaurantes, shoppings e parques são alguns dos lugares em que Kiwi costuma acompanhar sua ‘mamãe’. Inclusive para a agência. “Todas as vezes em que vou sair de casa o primeiro pensamento é se ele também vai”, conta a publicitária da BETC Havas, mostrando que estabelecimentos pet friendly têm um quê a mais na preferência dos tutores.

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Verônica e Kiwi no antigo trabalho da publicitária (Arquivo pessoal)

“Meu trabalho anterior era pet friendly e eu costumava levá-lo comigo aproximadamente uma vez na semana. Era um dia completamente fora da rotina pra mim. Um dia em que eu me obrigava a sair para almoçar, por exemplo. Eu me deslocava mais dentro da agência, para garantir que ele circulasse e acabava interagindo muito mais com as pessoas”, conta.

Com a pandemia, porém, Kiwi se tornou um ‘cãopanheiro’ de Verônica no home office, e, claro, está aparecendo nas reuniões de vídeo. “O Kiwi, às vezes, pede atenção do nada. E se eu estiver em call, pego ele no colo e mostro na câmera. Quando o momento é favorável, quebra o clima, e geralmente as pessoas sorriem e isso vale muito”.

Verônica e Fernanda, cada uma à sua maneira, são apenas alguns exemplos de como a presença de pets em nossas vidas é saudável. Para as crianças, os benefícios da companhia de um pet também pôde ser comprovado por meio de um estudo realizado pela Mars Petcare, cujo objetivo foi avaliar as percepções dos professores sobre a presença dos animais de estimação na sala de aula virtual.

A empresa também apurou como os pais analisam os impactos positivos que a interação humano-animal pode ter nas crianças durante o confinamento.

Segundo os dados, 79% dos professores notaram que seus alunos se sentem menos estressados na sala de aula virtual quando seu animal de estimação está por perto, e 83% dos entrevistados acham que a interação com o pet é importante para reduzir a ansiedade. Outro ponto relevante foi a constatação de que 87% dos professores dizem que ter um animal de estimação em casa pode ajudar as crianças a se sentirem menos solitárias.

“Os pets têm ocupado um papel cada vez mais importante dentro das famílias, e a pandemia intensificou a relação entre os tutores, principalmente pelas mudanças de hábitos que afetou grande parte da população, incluindo as crianças. O intuito da pesquisa era entender, no cenário brasileiro, como os pets têm interagido com os estudantes durante o momento de aprendizagem online e como isso pode ser benéfico daqui para frente, mesmo com o retorno ao ensino presencial”, explica Sheila Guebara, diretora de assuntos corporativos da Mars Petcare.


MUDANÇA COMPORTAMENTAL

Marcelo dos Santos, professor de psicologia da Universidade Presbiteriana Mackenzie, explica que, a partir da Geração X, houve uma revolução tecnológica, que impactou na relação entre as pessoas. “Houve uma mudança no comportamento relacional entre as pessoas”, diz. Santos lembra que, no passado, existiam prerrogativas que cobravam a constituição de família cedo, por exemplo, e essa configuração perdeu espaço.

“As mudanças comportamentais foram notórias em relação à constituição de família, e hoje você vê uma liberdade maior na escolha do modelo de vida que a pessoa quer seguir. E essa mudança tem feito que pessoas preferissem, neste primeiro momento, ter um animal a se casar, a ter um filho”, garante.

Como reflexo dessa mudança comportamental está o fato de, atualmente, o país ter mais animais de estimação nos lares do que crianças. De acordo com o Instituto Pet Brasil, a população de animais no país está em torno de 145 milhões, um número 3,3 maior do que o de crianças nas casas, cerca de 44 milhões, como revelou uma projeção feita pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

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Hilaine Yaccoub, tutora do Calvin Klein: pets são ótimas companhias (Arquivo pessoal)

Professora do curso de psicologia da Universidade Anhembi Morumbi de São José dos Campos (SP), Danusa Machado afirmou que os pets são, em geral, uma fonte de ‘amor e afeto incondicional’. “Estudos mostram que existe a liberação de ocitocina na troca de olhar entre humanos e pets”, ressaltou a especialista.

Além disso, Danusa destaca que a relação humano-pet é menos complexa. “A relação entre pessoas é, quase sempre, uma relação de troca, de ambivalência de sentimento, o que não existe quando nos relacionamentos com os animais de estimação”, diz.

Hilaine Yaccoub é Ph.D e mestre em Antropologia do Consumo pela Universidade Federal Fluminense, e afirma que, com a queda de natalidade e a cultura da não solidão, os pets se tornaram um ‘caminho viável para ter para quem voltar’ no final de um dia de trabalho.  

“Criar um pet mesmo com todo mimo e humanização é bem mais fácil, menos custoso, e bem menos trabalhoso que criar uma criança. E pode ser um passo anterior para isso. Além disso, nós criamos a fantasia de conexão com o animal que corresponde a chamados, fazem caras engraçadas, são fonte de alegria no Instagram e também de exibição nas redes sociais”, diz.


FELICIDADE E RECIPROCIDADE

Levantamento feito recentemente pela M&S Bank Pet Insurance revelou que 94% dos mais de 2 mil entrevistados afirmaram que seus animais causam impactos positivos na sua saúde, fazendo com que se sintam mais felizes (de acordo com 89% das pessoas), e mais calmos (50%). Além disso, o estudo mostrou que 34% das pessoas perceberam uma melhora no bem-estar desde que adquiriram os animais de estimação.

A publicitária Verônica que o diga. “Só de estar por perto ele já contribui para a minha felicidade. Pequenas atitudes dele me fazem rir, me distraem, me animam e me tiram da inércia. Ele nem precisa fazer nada e eu já estou achando lindo. É o efeito que o amor causa no organismo”, garante.

Esse efeito é o que alguns estudos defendem: ter um animal em casa aumenta a produção de endorfina e ocitocina, conhecido como os hormônios da felicidade. Pesquisa da empresa McCarthy & Stone mostrou que tutores de animais com mais de 55 anos tendem a ser mais felizes do que aqueles que não tem. Isso porque, de acordo com especialistas, esses elos produzem substâncias “boas” para o cérebro.

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Conviver com pets pode aumentar a produção de ocitocina no organismo (Karsten Winegeart/ Unsplash)

Já Karine Karam, professora de pesquisa e comportamento do consumidor da ESPM Rio de Janeiro, conta que, na neurociência, existem gatilhos mentais que ativam determinado consumo, dentre os quais está a reciprocidade. “Uma bolsa que eu compro me faz sentir mais bonita, mais chique, entre outros atributos, mas não há reciprocidade neste caso”, afirma. “Com o animal é diferente, já que o dono busca a todo momento retribuir esses momentos de alegria consumindo produtos e serviços do mundo pet”, completa a especialista.

A professora da ESPM cita o case do Nubank, que decidiu criar um produto para pets após ter registrado mais de 6 mil contatos de clientes reportando algum dano no cartão causado, claro, pelos pets. Em parceria com a Zee.Dog, a marca desenvolveu o Nudog, brinquedo feito nos moldes e cor do cartão do Nubank para ser destruído – sem deixar os tutores de cabelos em pé.

Assim como o Nubank, outras marcas também apostaram na adaptação, por exemplo, de cardápios, como o Burger King com o seu biscoito para cachorro. Segundo Karine, essa é a tendência a ser seguida pelas marcas. “Ser pet friendly não é mais suficiente em um mundo onde o pet ganha cada vez mais importante”, diz. “Quando você chega num lugar que vende um picolé para você e para o seu cachorro, o animal passa a ser um cliente, um consumidor nessa sociedade contemporânea”, finaliza.



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