by Sinapro-MG | 19 de maio de 2021 16:05

Muito se fala sobre as “dores do crescimento” de uma startup[1], o famoso “scaling”. O desafio é ainda maior quando o assunto é escalar o negócio internacionalmente. O que priorizar? Como se adaptar a contextos locais? Tenho dez anos de experiência trabalhando com produto, e nos últimos quase três, grande parte do meu desafio foi levar a TransferWise, uma empresa que quer eliminar as fronteiras financeiras, para novos mercados na América Latina. Infelizmente, não existe fórmula mágica e infalível, mas compartilho aqui com vocês nove pontos que considero essenciais quando se fala em escalar produtos globalmente.
Começando pelo básico, para criar um produto escalável é preciso ter em mente se ele resolve um problema real. Isso, na verdade, independe da estratégia de crescimento, se é local ou internacional. Até poucos anos atrás, movimentar dinheiro pelo mundo era lento, difícil e caro. Por isso, para a empresa o problema real era a frustração com o tempo de envio, alto custo e falta de transparência sobre as taxas das instituições financeiras na hora de enviar dinheiro. Uma dor sentida na pele pelos fundadores da empresa que precisavam trocar libras e euros e não se conformaram com as altas taxas aplicadas em 2011.
Também é importante entender se o cliente[2] do novo mercado tem os mesmos hábitos e comportamentos do que no local em que a empresa já está estabelecida. Por exemplo, no Brasil, a TransferWise precisou se adaptar ao boleto, algo único no mundo. Um dos motivos é o boleto ser um dos meios de pagamento mais usados pelos brasileiros, tanto pela praticidade quanto sensação de maior segurança ao terem um comprovante de que o dinheiro foi enviado.
Você deve encontrar aqueles que estão tão incomodados com um problema que estão ativamente buscando uma solução como o seu produto. É essencial deixar claro como mapeá-los e quem são. Isso antes mesmo de definir qual o novo mercado que deseja entrar, uma vez que os early adopters podem direcionar o local de expansão mais indicado.
O mais indicado é ter um MVP [3]para cada mercado, tendo em mente as características locais, o comportamento, quais features se aplicam e o que valorizam ou não, buscando validar hipóteses. Em alguns países, a velocidade de transferência de dinheiro é muito mais valorizada do que o custo. Já outros mercados, acostumados com transações demoradas, valorizam mais o custo do que o tempo, aceitando esperar desde que isso reduza o preço final.
Ao escalar um produto, vá além de uma simples tradução de site. É necessário ter pessoas com entendimento do modelo mental dos clientes no novo mercado, porque isso impacta o seu product market fit[4]. Um exemplo disso é que os brasileiros focam mais em quantos reais precisam para comprar determinada quantia de moedas fortes, como euro e dólar. No mundo o que vemos é o inverso, portanto modificamos isso na nossa calculadora em português para que fique claro quantos reais são necessários para converter para um euro. O que alavancou a conversão.
Outra vantagem na hora de escalar um produto é manter os serviços e sistemas por trás do produto o mais modular possível, assim, é viável ajustar determinadas etapas seguindo regras de compliance locais, por exemplo, sem ter que recriar os serviços existentes ou adicionar muita complexidade no software.
Objetivos e métricas vão evoluir à medida que a presença local também evoluiu. Quando for para outro mercado é necessário voltar para aquele momento inicial do produto e pensar quais eram as métricas utilizadas. Porém, lembre-se de que essas métricas vão assumir diferentes valores em diferentes mercados.
Também é preciso pensar em uma forma objetiva de comparar as oportunidades, evitando um dilema de onde investir: seja em um novo mercado, um novo produto em mercado já estabelecido, um mercado com pouco market share, entre outros. A solução é encontrar uma métrica comum para comparação. No nosso caso, tem funcionado olhar para o volume incremental por trimestre. E não levando em conta somente o impacto de curto prazo, porque cada oportunidade tem um prazo de amadurecimento.
O bom product manager precisa olhar para produto do começo ao fim, pensando em todos os pontos de contato com o cliente. Mesmo o product manager que não é responsável por isso dentro da empresa deve trabalhar perto de times que melhorem a escalabilidade de partes operacionais. No fim o que o cliente quer é a melhor experiência possível de ponta a ponta. Como solução, investimos na nossa capacidade de verificação de documentos usando automatização ou machine learning, melhorando muito as nossas métricas nessa área.
Ao entrar em um novo mercado, a TransferWise precisa estabelecer licenças ou parcerias com instituições financeiras locais. Como o processo para conseguir uma licença costuma ser demorado, os parceiros locais são úteis para já aprender sobre o mercado e os clientes. Mesmo antes de ser uma empresa internacional, com atual valuation de US$ 5 bilhões, a empresa manteve contato com reguladores pelo mundo mostrando que processos estavam datados, precisavam ser revistos e visando uma maior transparência e modernização do setor financeiro. Essas mudanças podem levar tempo, mas vale a pena desenvolver essa parceria para melhorar a regulamentação do mercado em que a empresa atua.
Por fim, adote a visão de que não há problemas em errar, desde que isso traga aprendizado. Dificilmente vamos acertar tudo na primeira vez, sendo necessárias algumas tentativas para aperfeiçoar o produto. Contanto que esteja aprendendo, não tenha medo de errar.
Fonte: Artigo de Ane Silva, gerente de Produto Sênior da fintech britânica TransferWise, publicado por Whow Inovação.
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